Apresentada nesta semana durante a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, em Macapá, uma pesquisa revelou que o avanço do mar pela foz do Rio Amazonas está provocando salinização nas águas do arquipélago do Bailique, no Amapá.
O fenômeno, antes restrito ao período da seca, agora ocorre o ano inteiro e já afeta o acesso à água potável em dezenas de comunidades ribeirinhas.
Pesquisadores do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Amapá (Iepa), da Ueap e do Observatório Popular do Mar (Omara) vêm registrando o aumento da salinidade nas águas que banham o arquipélago do Bailique, a cerca de 180 quilômetros de Macapá.
A combinação de aquecimento global, desmatamento e elevação do nível do mar estaria empurrando a água salgada do Atlântico para dentro do rio, contaminando poços e tornando imprópria para o consumo humano a água que antes abastecia dezenas de comunidades.
Um dos pesquisadores explicou que o processo de salinização está “avançando mais rápido do que se imaginava”, o que exige respostas locais urgentes para garantir água de qualidade às famílias ribeirinhas.

O Governo do Amapá instalou uma máquina de dessalinização no Bailique, capaz de transformar até 3 mil litros de água salgada por dia em água própria para o consumo. A medida, porém, atende apenas parte da população e ainda é vista como uma solução emergencial, não definitiva.
Enquanto isso, o projeto Omara mantém 11 pontos de monitoramento ao longo da costa amazônica, reunindo dados sobre marés, erosão e variações climáticas para apoiar futuras políticas públicas de adaptação às mudanças ambientais.
Além de comprometer o acesso à água potável, o avanço do mar altera o ciclo das chuvas, o equilíbrio dos rios e o próprio clima amazônico. Pesquisadores apontam que o comportamento do Atlântico influencia diretamente a formação das nuvens que trazem chuva para o Norte do país.
O rio é o coração da Amazônia Atlântica. Se ele muda, todo o ecossistema sente.
As equipes defendem que é preciso investir em monitoramento contínuo, reflorestamento das margens e educação ambiental para reduzir os impactos já visíveis nas ilhas amapaenses.
Moradores relatam que, há poucos anos, bastava abrir o poço para ter água doce. Hoje, muitos precisam navegar longas distâncias ou depender das balsas com água potável enviadas pelo governo para garantir o abastecimento.
A escassez ameaça a pesca, a agricultura de subsistência e até o funcionamento de escolas e postos de saúde da região.
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