A nova sondagem divulgada nesta quarta-feira (29) chega logo após o escândalo da MacapáPrev, que revelou o sumiço de R$ 137 milhões do fundo de aposentadorias e pensões dos servidores municipais. No mesmo dia em que o país celebrou o Dia do Servidor Público, em Macapá o clima foi de apreensão e não de festa.
São mais de 11 mil servidores ativos e 1,5 mil inativos que agora vivem à sombra da incerteza. A pesquisa do Instituto Paraná, que coloca o prefeito Dr. Furlan (MDB) à frente do governador Clécio Luís (Solidariedade), surge como um sopro de conveniência no meio da fumaça do escândalo.
A coincidência que se repete
Foi assim em 14 de outubro, quando uma pesquisa do Real Time Big Data apareceu no meio da crise da Educação, enquanto terceirizados e professores preparavam protestos.
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Agora, a história se repete: uma nova pesquisa no exato momento em que o colapso da previdência municipal domina as manchetes.
O Ministério da Previdência Social apontou que o saldo do fundo despencou de R$ 176,8 milhões em julho de 2023 para apenas R$ 39,4 milhões em julho de 2025.
O relatório do auditor fiscal Charles Souza de Lima, da Receita Federal, cobra explicações pelo não repasse integral das contribuições patronais — uma diferença de R$ 84,2 milhões a regularizar e pela ausência de relatórios obrigatórios desde 2023.
O espelho que reflete, mas não explica
Enquanto os números da pesquisa projetam imagem de estabilidade, os da previdência municipal mostram um rombo que ameaça o futuro de milhares de famílias.
O documento federal é claro: a prefeitura deixou de repassar a contribuição previdenciária e não prestou contas ao órgão regulador, o que levou à suspensão do Certificado de Regularidade Previdenciária (CRP), o que, na prática, pode impedir Macapá de receber repasses da União e firmar convênios federais.
Mesmo com alertas prévios do Tribunal de Contas do Estado (TCE-AP), o problema cresceu. O conselheiro Michel Houat Harb já havia advertido em agosto que a má gestão da MacapáPrev ameaçava o equilíbrio fiscal da cidade e o pagamento de aposentadorias e pensões.
Mas, enquanto o dinheiro desaparece e o Ministério da Previdência cobra explicações, o que aparece na manchete é um novo gráfico eleitoral — um reflexo conveniente que esconde a rachadura no espelho.
O tempo e o interesse
Em política, o tempo é o argumento mais preciso. Divulgar uma pesquisa logo após um escândalo é uma forma sutil de trocar o assunto sem trocar o problema.
O eleitor, no entanto, já aprendeu a ler os bastidores: quando a pauta muda rápido demais, é porque alguém tenta apagar o incêndio com papel de pesquisa.
Não é a primeira vez que isso acontece e nem será a última. Em 2022, o Real Time Big Data apontava empate entre Jaime Nunes e Clécio Luís (37% cada). O resultado das urnas, porém, mostrou outra história: Clécio venceu no primeiro turno, com 54% dos votos válidos.
A pesquisa que o instituto não mede
Enquanto os institutos publicam porcentagens, os servidores municipais lidam com planilhas mais cruéis, as de um sistema previdenciário que perdeu mais de R$ 130 milhões em dois anos. A cada gráfico divulgado, um contracheque em atraso desmente o discurso de prosperidade.
Na porta das repartições, o retrato de popularidade é outro: feito de boletos vencidos, servidores inseguros e promessas que evaporaram como os recursos da MacapáPrev.
E talvez seja essa a pesquisa mais honesta, aquela que não aparece nas manchetes, mas ecoa nas ruas: a do servidor que não confia mais no número, nem em quem o divulga.
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