Enquanto a Prefeitura de Macapá prepara um palco para a alegria e o ritmo contagiante de Xande de Pilares, uma sombra de indignação paira sobre a cidade. Uma parcela da população se divertirá, no Dia do Trabalhador (1º de maio) ao som do pagode, celebrando a data comemorativa, mas para outra, a realidade é bem mais amarga.
São os trabalhadores da limpeza urbana, os "Verdinhos" de Macapá, que assistirão de longe à festa, sabendo que sua jornada será varrer os vestígios da folia, limpando a sujeira deixada por aqueles que se entregaram à festa.
O contraste é gritante e a ferida, profunda. Enquanto o prefeito Antônio Furlan anuncia a atração musical como um presente para a população no Dia do Trabalhador, esses mesmos trabalhadores, essenciais para a higiene e o bem-estar da cidade, vivem há meses sob o peso da incerteza financeira.
A empresa L. Corrêa, responsável pela contratação dos "Verdinhos", alega que os repasses da Prefeitura de Macapá estão atrasados, o que inevitavelmente impacta nos salários e no Vale Refeição (VR) desses pais e mães de família.
A situação não é nova e ecoa um passado recente de sofrimento. Em dois Natais passados, a Justiça precisou intervir para garantir que esses trabalhadores recebessem seus pagamentos, sob o risco de passarem a ceia natalina sem sequer ter o que comer. A memória da angústia ainda é viva entre eles, e a promessa de um futuro mais digno parece cada vez mais distante.
Um dos "Verdinhos", sob a condição de anonimato por temer represálias e a temida demissão, revela a rotina exaustiva e a instabilidade financeira: “A empresa paga um mês de salário e deixa dois dentro, a mesma coisa acontece com o vale-refeição”. A matemática da sobrevivência se torna um desafio diário, onde a incerteza do amanhã se soma ao cansaço físico da jornada.
A crítica dos trabalhadores não se direciona ao show em si. Eles não são contra a festa, não invejam o momento de lazer daqueles que podem se divertir. O que ecoa em seus corações é a profunda tristeza e a sensação de injustiça por terem que limpar a sujeira da festa de barriga vazia. A ironia da situação é cruel: no Dia do Trabalhador, enquanto alguns celebram seus direitos e conquistas, outros lutam para ter o básico garantido, para alimentar suas famílias e manter a dignidade.
A pergunta que paira no ar é: que tipo de celebração é essa que ignora a penúria de seus próprios trabalhadores? Que mensagem o prefeito Antônio Furlan envia ao trazer um show suntuoso enquanto os "Verdinhos", a força braçal que mantém a cidade limpa, clamam por seus direitos básicos?
A festividade programada para o Dia do Trabalhador em Macapá se revela, para muitos, não como um momento de celebração, mas como um doloroso lembrete das desigualdades e da falta de prioridade com aqueles que, com suor e esforço, constroem a cidade todos os dias. A alegria de alguns se tinge com a tristeza e a indignação de outros, em um retrato amargo da realidade macapaense.
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