O Hospital da Criança e do Adolescente (HCA), em Macapá, tem sido um refúgio para crianças e adolescentes vítimas de violência. A unidade mantém um serviço especializado que, em 2024, já atendeu 102 pacientes, a maioria por abuso sexual infantil.
O Serviço de Atendimento a Vítimas de Violência Infantil (Savvi) do HCA registra quatro tipos de violência: sexual, negligência, física e autoprovocada. Dos casos atendidos, 74 são do sexo feminino e 26 do sexo masculino, com a faixa etária predominante de 10 a 12 anos.
Os números revelam que 65% dos atendimentos são por abuso sexual, tendo como alvo principal as meninas. Em seguida, aparecem as violências negligenciais, com 29%, as físicas, com 4%, e a autoprovocada, com 2%.
Os casos de violência sexual chegam ao HCA de diversas formas: por meio do Conselho Tutelar, por demanda espontânea dos pais ou responsáveis, ou encaminhados pelas delegacias, onde as denúncias são feitas diretamente aos órgãos de segurança.
"A maioria dos abusos acontece com meninas e muitas vezes o agressor é alguém que deveria zelar pela sua saúde. Essas vítimas sofrem com impactos psicológicos e físicos profundos e nosso serviço faz esse acolhimento e se responsabiliza pelos cuidados e privacidade, pois temos salas apropriadas e garantia de escuta protegida", explica Gardênia Araújo, enfermeira e responsável técnica do Savvi.
O atendimento do Savvi conta com uma equipe multidisciplinar, composta por enfermeiros (24 horas), médicos (2), psicólogos (1) e assistentes sociais (1). Essa equipe oferece atenção hospitalar e psicossocial constante, amparando as vítimas que sofrem com negligência, agressão física ou violência autoprovocada.
"Alguns casos detectamos dentro do hospital, quando a mãe traz a criança para um outro atendimento e observamos sinais que indicam negligência. O hospital e o Pronto Atendimento Infantil (PAI) acolhem, atendem, cuidam, tratam e protegem crianças e adolescentes, por isso, temos sempre o olhar cuidadoso para indícios de violência", reforça Gardênia.
O serviço do HCA realiza o registro anual do número de casos. Em 2023, foram 73 atendimentos, com a seguinte distribuição: 65% por abusos sexuais, 19,3% por negligência, 10,2% por agressões físicas e 4,5% por violência autoprovocada. A responsável técnica do setor explica que o aumento no número de casos registrados ao longo dos anos se deve à estruturação do serviço e ao maior alcance, o que permite que casos que antes não chegavam ao conhecimento do HCA agora sejam acolhidos e recebam o apoio necessário.
A notificação de qualquer suspeita ou confirmação de violência contra crianças e adolescentes é compulsória, ou seja, a comunicação é obrigatória, conforme estabelecido pelo Ministério da Saúde e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Todos os casos são reportados ao Conselho Tutelar, mesmo que haja apenas suspeita. Em situações mais graves, como violência física, psicológica ou sexual, as delegacias de polícia e o Ministério Público também são notificados.
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