Em meio ao silêncio tenso de um centro cirúrgico recém-inaugurado, médicos e enfermeiros do Hospital da Criança e do Adolescente (HCA) em Macapá escreveram um novo capítulo na história da saúde pública do Amapá. Na noite da última sexta-feira (11), a equipe realizou a primeira trepanação craniana bilateral em um bebê de apenas seis meses, prematuro, que chegou em estado crítico transferido do município de Santana.
A cirurgia, considerada de alta complexidade, foi decisiva para salvar a vida da criança, que apresentava pressão intracraniana elevada, quadro capaz de causar danos neurológicos irreversíveis ou até a morte. O procedimento consiste na abertura de dois pequenos orifícios no crânio para permitir o alívio da pressão interna, reduzindo o risco de lesões cerebrais.
“Foi uma corrida contra o tempo. A criança chegou muito instável. Assim que o neurocirurgião avaliou o caso, não havia outra escolha senão operar imediatamente”, contou a enfermeira Sammea Andrade, responsável técnica pelo centro cirúrgico do HCA. “Poder realizar essa cirurgia aqui, sem precisar mandar o paciente para outro hospital, é uma vitória enorme para todos.”
A intervenção ocorreu poucos dias após a inauguração do novo centro cirúrgico do HCA, entregue pelo Governo do Estado em 3 de julho. A estrutura conta com equipamentos modernos e equipe treinada para procedimentos gerais pediátricos, mas ainda está se adaptando para absorver cirurgias neurológicas mais complexas de forma rotineira. Até então, casos semelhantes precisavam ser encaminhados ao Hospital de Clínicas Dr. Alberto Lima (Hcal), onde tradicionalmente se concentra a neurocirurgia no estado.
Além do avanço técnico, o caso do bebê lança luz sobre uma realidade desafiadora: o Amapá, até recentemente, tinha oferta limitada de cirurgias pediátricas complexas e dependia frequentemente de transferências interestaduais. Agora, com 36 novos leitos de UTI e o centro cirúrgico ampliado, o HCA começa a se consolidar como referência regional para o atendimento de alta complexidade em crianças e adolescentes.
Atualmente, o hospital já realiza procedimentos como herniorrafias, apendicectomias, cirurgias ortopédicas e intervenções na área de otorrinolaringologia. Mas, para casos neurológicos delicados como o do bebê, ainda será necessário ampliar o parque tecnológico e os insumos específicos, processo que está em curso por meio de licitações.
“Estamos nos estruturando para oferecer cada vez mais resolutividade aqui dentro, com segurança e qualidade. Essa cirurgia mostra que estamos no caminho certo”, disse Sammea Andrade.
O bebê permanece internado na Unidade de Terapia Intensiva, em estado estável. Para a equipe médica, cada batida do coração do pequeno paciente é sinal de que o investimento na saúde pediátrica do estado começa, enfim, a fazer diferença real.
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