Há pesquisas que medem intenções. E há outras que medem o momento da conveniência. A divulgada nesta terça-feira (14) pelo Real Time Big Data, colocando o prefeito Dr. Furlan (MDB) à frente do governador Clécio Luís (Solidariedade) chega na hora exata.
Foi divulgada um dia depois de uma manifestação de terceirizados da Educação, que estão há três meses sem receber, e dois dias antes da paralisação dos professores de Macapá, marcada para os dias 16 e 17, uma coincidência grande demais para caber no acaso.
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O retrato que o espelho não mostra
Segundo o levantamento, Furlan teria 65% das intenções de voto, contra 27% de Clécio. Mas a pesquisa não informa quais municípios foram consultados, tampouco detalha a metodologia aplicada. É como um espelho que mostra o reflexo mais favorável, mas esconde a rachadura na moldura.
Os professores que preparam o protesto têm outra percepção da cidade: salas quentes, escolas sem estruturas e promessas não cumpridas. Na porta das escolas, o retrato de popularidade é menos estatístico e mais humano, feito de rostos cansados e boletos vencidos.
Quando o timing vale mais que os números
Em política, até o silêncio tem hora para ser dito. Por isso, divulgar uma pesquisa exatamente entre uma greve anunciada e uma manifestação recente não é apenas coincidência , é estratégia de distração.
O eleitor, ainda que cético, entende o jogo: um número alto pode não apagar o eco de uma categoria insatisfeita. E toda pesquisa, antes de medir a vontade do povo, mede o interesse de quem a encomenda.
A lembrança de 2022 e da urna que não mente
Vale lembrar: em agosto de 2022, o mesmo instituto Real Time Big Data apontava empate entre Jaime Nunes e Clécio Luís (37% cada). No entanto, o resultado final foi outro. Clécio venceu no primeiro turno com 54% dos votos válidos. Os números, como o vento, mudam de direção quando encontram a realidade das urnas.
Entre a planilha e o chão da escola
Enquanto a pesquisa tenta construir uma narrativa de força e aprovação, os professores de Macapá preparam cartazes, não gráficos. A cada dado anunciado, uma sala de aula vazia responde.
E talvez essa seja a verdadeira pesquisa, aquela que não aparece em planilhas, mas grita nas ruas, com voz rouca de quem ensina sem ser ouvido.
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