No Amapá, a juventude anda armada e com o tempo contado. A morte que chega antes da vida começar. Nos últimos meses, a violência ligada às facções criminosas tem deixado um rastro de corpos jovens nas ruas, nos becos e nas pontes de Macapá e Santana.
É uma guerra em que ninguém envelhece, e a única certeza é que o crime não tem aposentadoria: só cova rasa.
A vida curta de quem entra para o crime
Quase todos têm o mesmo perfil: homens entre 17 e 30 anos, moradores da periferia, com passagens por pequenos delitos e sem escolaridade completa. A maioria não terminou o ensino fundamental ou o médio.

São jovens que trocaram o caderno pela pistola, e a sala de aula pelo comando. A escola ficou pelo caminho e o caminho virou beco. A vida de quem entra nesse mundo é curta. Quem não morre em confronto, vai para o presídio e raramente volta de lá diferente.
Por que eles preferem morrer a se entregar?
Policiais que atuam em operações recentes relatam um padrão que se repete: os criminosos se recusam a se render. Para muitos, morrer em tiroteio é o último gesto de “lealdade” à facção.

Na lógica perversa das ruas, se entregar é trair. E assim, o medo de morrer se mistura ao medo de viver sem respeito, num ciclo em que a morte se torna o único ato de coragem possível.
O reforço no combate as facções
Ainda que o Estado esteja mais presente, com operações firmes e estratégicas da Segurança Pública, o ciclo de mortes precoces segue se repetindo, como um eco que vem de todo o Brasil.

A polícia tem agido com precisão, desmontando células e enfrentando confrontos que terminam antes do amanhecer. É um trabalho que tem exigido coragem, técnica e inteligência e que, mesmo com resultados expressivos, ainda encontra a mesma ferida aberta: a juventude que se perde antes de chegar à vida adulta.
Epílogo: os meninos que não envelhecem
Eles morrem com o corpo ainda leve, com os olhos que mal aprenderam a ler.

O ritual de comprometimento com o crime é impiedoso
Não basta ingressar, é preciso provar lealdade. Em abril deste ano, um adolescente de 17 anos foi apreendido após confessar que matou um motorista de aplicativo de 47 anos apenas para mostrar fidelidade à nova facção que passou a integrar.
Ele contou que mudou de organização criminosa e, para ser aceito, tinha que cometer um homicídio de membro rival. Essa revelação choca, mas retrata a lógica interna: a vida (do outro e a própria) vira moeda de troca para subir um degrau na hierarquia do crime.
Não importa quem são: os pais choram
Enquanto isso, pais e mães choram a perda precoce de seus filhos, e comunidades inteiras convivem com o medo. Nos becos estreitos, nas pontes sobre igarapés e nos conjuntos habitacionais, a presença das facções é sentida no dia a dia, seja pelo silêncio das noites interrompido por tiros, seja pela ausência de jovens que deveriam estar na escola ou no trabalho, mas terminam no cemitério.

A vida bandida é curta. Se não tombam em confrontos ou execuções, muitos acabam presos antes dos 30, fechando o mesmo ciclo de violência que iniciaram na adolescência. Como num ritual macabro e repetitivo, novas gerações ocupam o lugar das anteriores, e a estatística segue seu curso.
O fim é o cemitério
No Amapá de 2025, as manchetes policiais contam variações da mesma história triste: jovens, quase sempre homens entre 17 e 30 anos, empunhando armas contra inimigos ou contra a polícia, e terminando estirados no chão.
A cada foto de perícia isolando a cena do crime, a sociedade é lembrada de que está perdendo uma geração para a guerra das facções.
E essa geração perdida tem rosto sem barba, nome curto e uma vida que mal começou e já chegou ao fim, seja pelo destino do caixão ou pelo do cadeado.
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