Num canto da vastidão amapaense, onde os rios desenham a vida e o acesso a direitos básicos é uma odisseia diária, o projeto Super Fácil das Águas atracou, e com ele, a esperança floresceu. Foi ali, na comunidade ribeirinha do Rio Navio, em Mazagão, que a servente Kauanny dos Santos, de 33 anos, soltou o grito contido por mais de cinco primaveras: “Finalmente terei meu nome social!”. Uma frase que ecoa não apenas a burocracia vencida, mas a alma reconhecida, o direito mais elementar à existência validado.
O barco da cidadania, uma iniciativa do Governo do Amapá em parceria com diversos órgãos, entre eles a Defensoria Pública do Estado (DPE), singrou as águas entre 7 e 14 de junho. Cinco comunidades-polo - Açaítuba, Vila Betel (Rio Ariramba), Vila Maranata, Rio Navio e Foz do Mazagão Velho - foram agraciadas com uma gama de serviços públicos essenciais. Mas foi no atendimento jurídico gratuito, sob a batuta da defensora pública Camila Araújo e sua equipe, que histórias como a de Kauanny encontraram seu porto seguro.
“Estou feliz que nem sei descrever. Esperei muito por esse momento”, relatou Kauanny, com a voz embargada pela emoção de quem vê um sonho, antes distante, se materializar.
A justiça navega onde a necessidade clama
Mais de 400 atendimentos jurídicos foram realizados pela DPE nesta primeira fase do Super Fácil das Águas. O foco recaiu sobre as demandas mais urgentes da população ribeirinha: Registro Civil, questões de família e saúde. Casos que, em terra firme, já seriam complexos, ganham contornos dramáticos nas áreas remotas. Homens e mulheres sem certidão de nascimento, aposentados com documentos danificados impedindo o acesso a benefícios do INSS – todas essas realidades foram abraçadas e encaminhadas para cartórios e o Poder Judiciário.
A defensora Camila Araújo ressalta o diferencial do projeto: a integralidade dos serviços. "O Super Fácil é a porta de entrada de vários serviços e estamos interligados. A certidão é um documento essencial, pois viabiliza o acesso a diversos direitos. Sem ela, por exemplo, não é possível obter a carteira de identidade. A Defensoria faz essa ponte com os cartórios e o Judiciário", explicou, evidenciando a engrenagem que, uma vez posta em movimento, abre as portas para a plenitude da cidadania.
Para Camila, a proximidade com as comunidades ribeirinhas é a bússola que orienta a missão. "Quando a gente conhece de perto as realidades locais, conseguimos atender de forma mais eficaz. Casos como o da Kauanny mostram como o acesso à justiça transforma vidas. A retificação do nome e gênero já foi solicitada ao cartório e, em breve, ela terá seu documento com a identidade que sempre desejou", finalizou, com a certeza de que cada documento retificado, cada direito garantido, é um passo na construção de um Amapá mais justo e inclusivo.
A parceria entre o Governo do Estado e a Defensoria Pública do Amapá, materializada nas missões do Super Fácil das Águas, reforça um compromisso inegociável: que a cidadania e o acesso à justiça cheguem a todos os amapaenses, desbravando rios e florestas, e alcançando cada canto onde a dignidade precisa florescer.
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