Tem coisas que não mudam. Como o afeto que atravessa o tempo em forma de leite. No Amapá, onde a vida pulsa entre a floresta e o rio, o Governo dá início ao Agosto Dourado com histórias que parecem bordadas à mão: delicadas, reais e, acima de tudo, poderosas. É o mês da amamentação e quem conta essa história são três mães que transformam o ato de alimentar em poesia cotidiana.
Conceição Cruz, 31 anos, negra, de olhar firme e voz doce, não teve um começo fácil. Gael Benício, seu filho, nasceu apressado, antes do tempo, e correu direto para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI). A mãe ficou com os braços vazios por cinco dias. Mas quando finalmente o pegou no colo, o menino se agarrou ao peito como se já conhecesse o caminho. “Dar de mamar é mais do que alimentar. É proteger, é cuidar. É o que eu posso oferecer de mais valioso pra ele”, diz, emocionada.
Dayanne Tiryó, 17 anos, vive outra realidade. Indígena da etnia Tiryó, ela não pensa duas vezes: o peito é extensão do corpo e do afeto. “Na minha cultura, a gente não espera. Se o bebê chora, a gente dá o peito. É natural. Sempre foi assim”. Tiffany, sua filha, vive colada na mãe. Não existe tempo certo, existe presença. Instinto. Amor.
Já Ana Carolini, 18, teve a sorte de viver a chamada "hora-ouro" logo após o parto. “Quando a Ana Cecília mamou pela primeira vez, eu entendi que ser mãe era mais do que carregar na barriga. Era isso: estar ali, inteira, alimentando com o corpo e com o coração.” Essas histórias, de universos tão distintos, se encontram no que há de mais humano: a amamentação como um gesto universal, capaz de vencer a pressa do mundo. O leite materno é completo, gratuito e insubstituível. E o Agosto Dourado veio para lembrar que proteger esse ato é proteger a vida.
A campanha, promovida pela Secretaria de Estado da Saúde, terá ações por todo o Amapá. Da capital às comunidades ribeirinhas. Uma das mais aguardadas é o “Mamaço na Amazônia”, no dia 23, às margens do majestoso rio Amazonas, onde dezenas de mulheres vão amamentar juntas, ao pôr do sol, num gesto de afeto coletivo e ocupação afetiva dos espaços públicos.
Haverá música, rodas de conversa, atividades para as crianças e, claro, informação de qualidade. “O leite humano salva vidas. E nós, como rede pública de saúde, estamos aqui para apoiar cada mãe, cada bebê, em qualquer lugar do estado”, reforça Fadianne Soares, coordenadora do Banco de Leite Humano do Hospital da Mulher Mãe Luzia.
Porque, no fim das contas, amamentar é isso: um ato de coragem, de entrega, de resistência. É o tipo de revolução que começa no peito e muda o mundo, uma gota de amor por vez.
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