Há quem ainda acredite que a internet seja um imenso deserto sem pegadas, onde se pode lançar pedras e desaparecer entre perfis falsos. Mas a verdade é que, como na vida real, todo criminoso deixa um rastro e, mais cedo ou mais tarde, alguém o seguirá. Foi assim no caso de um casal de Macapá que ousou não se calar diante da transfobia.
O que aconteceu?
Em maio deste ano, um casal, formado por uma mulher cis e um homem trans, denunciou um comentário de ódio recebido no Instagram. Um perfil falso, escondido atrás do anonimato, publicou uma mensagem transfóbica que tentou reduzir identidades a insultos.
Eles poderiam ter ignorado, como muitos fazem, engolindo em silêncio o veneno da intolerância. Mas não. Foram à 5ª Delegacia de Polícia da Capital, que tem a atribuição de acolher a comunidade LGBTQIAPN+. Lá, decidiram transformar dor em denúncia.
Como a Polícia Civil identificou a autora do crime?
A investigação revelou o que muitos insistem em negar: a rede virtual também guarda pegadas. Com trabalho técnico, a polícia rastreou o perfil, identificou a responsável e a intimou. A mulher, de 32 anos, confessou ter criado a conta falsa, mas disse não se lembrar do comentário.
Para a delegada Lívia Pontes, titular da 5ª Delegacia de Polícia da Capital , o caso é emblemático. “Muitas vezes, infelizmente, as vítimas não têm ideia da gravidade do crime. Acham que não vai acontecer nada. Só que nesse caso as vítimas procuraram a polícia e tivemos êxito em identificar a autora. Comentários de ódio deixam marcas e podem resultar em processo criminal.”
Qual a base legal para o indiciamento?
O inquérito foi concluído com base na Lei 7.716/1989, que trata dos crimes de discriminação e prevê punição a quem atenta contra a dignidade por identidade de gênero. O caso agora segue para análise do Ministério Público, que poderá oferecer denúncia formal.
A internet é ou não é terra sem lei?
O episódio reafirma uma lição: o espaço virtual não é um lugar sem regras. Comentários ofensivos ou discriminatórios, mesmo sob máscaras digitais, podem ser rastreados e punidos. O silêncio protege apenas o agressor; a denúncia é a voz que rompe a impunidade.
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