Na tarde quente de Santana, o Plenário do Fórum ganhou um ar diferente. Não era dia de sentença, tampouco de litígio. Era dia de sorrisos contidos, mãos entrelaçadas e olhares ansiosos. Quarenta casais se reuniram para a Oficina de Noivos, etapa que antecede a celebração do Casamento na Comunidade 2025, iniciativa que o Tribunal de Justiça do Amapá (TJAP) promove há mais de duas décadas em parceria com a Assembleia Legislativa e os cartórios.
A cerimônia oficial está marcada para o próximo dia 19, na Assembleia de Deus Tempo Central, mas nesta quinta-feira (4), o que se celebrou foi o aprendizado. Um ensaio sobre convivência, respeito e diálogo, ingredientes sem os quais o amor perde fôlego no correr dos anos.
O amor como aprendizado
A juíza Carline Nunes, que representou a direção do Fórum, abriu a oficina com palavras que mais pareciam um conselho de amiga. “Nem sempre é fácil. Mas é possível aprender a lidar com as diferenças com respeito e amor. Que esta experiência faça sentido e que a energia do amor esteja presente na vida de todos vocês.”
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A tarde seguiu com a mediação de Vanessa Araújo Chagas, do Cejusc, e da promotora Sílvia Canela, do Ministério Público. Entre conceitos de regime de bens e dicas para resolver conflitos, o que se via eram casais atentos, alguns rindo discretamente, outros enxugando lágrimas. Era como se o peso da vida cotidiana fosse, por alguns minutos, suspenso para dar lugar à certeza de que casar também é escolher diariamente permanecer.
O testemunho de quem já caminhou
No meio dos casais, um chamou a atenção. Arlindo Cardoso, 59 anos, e Evanilde, 58, se conhecem desde a adolescência. Vivem juntos há 43 anos, criaram 10 filhos e agora decidiram oficializar a união.
“Vivemos juntos desde 1982. Eu tinha 16 e ela, 15. Hoje, depois de tantos anos, nossos filhos já estão crescidos e a vida nos dá esse presente. Vamos casar no papel, mas, de verdade, já somos casados há muito tempo — no companheirismo, no amor e na fé”, contou Arlindo, emocionado.
Na fala simples, mas carregada de sentido, o autônomo traduziu o que aquela oficina representava: mais do que um procedimento formal, era a chance de reconhecer, perante a Justiça e perante a cidade, histórias que já resistiram ao tempo.
Entre papel e afeto
O Casamento na Comunidade não é apenas um ato jurídico. É um gesto coletivo que transforma um salão forense em palco da esperança. Um espaço onde casais jovens, maduros e veteranos como Arlindo e Evanilde se encontram para reafirmar o que já sabem: o amor exige coragem, mas também precisa de apoio, reconhecimento e, por que não, da assinatura oficial.
Em Santana, a oficina terminou em aplausos tímidos, abraços demorados e olhares que se prometem para a vida toda. E se há algo que se pode dizer é que, antes mesmo do sim no altar, os noivos já saíram de lá casados pelo compromisso de continuar escolhendo o outro todos os dias.
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