Depois de 12 anos mergulhado no silêncio, o Museu Kuahí dos Povos Indígenas do Oiapoque volta a pulsar neste sábado (19). Não como uma simples reinauguração, mas como um gesto histórico de reparação simbólica, onde a memória, os cantos, os grafismos e a sabedoria ancestral dos povos originários do Amapá voltam a ter casa e voz - sob o próprio comando de quem detém essa história.
O governador Clécio Luís chega ao município do extremo norte com a consciência de que não está apenas devolvendo um prédio. Está entregando autonomia, fortalecendo línguas ameaçadas, valorizando o saber coletivo e dizendo - com política pública e sensibilidade - que os povos indígenas do Amapá não estão sozinhos.
Um museu administrado 100% por indígenas. É deles, para eles - e também para todos os que estiverem dispostos a escutar. A reabertura do Kuahí acontece com os Karipuna, Palikur-Arukwayene, Galibi-Marworno e Galibi Kali'na ocupando todos os espaços, com seus cantos, danças, artes, e sobretudo, com sua presença afirmativa.
“Isso aqui é uma política de Estado que respeita a autonomia indígena e reconhece sua importância para a identidade do Amapá e do Brasil”, resume Clécio.
No acervo, mais de 500 peças etnográficas foram catalogadas e digitalizadas. O museu oferece biblioteca, oficinas, loja de artesanato, redário e uma maloca para encontros culturais. A gestão, o conteúdo, as decisões e os rumos — tudo foi discutido com os próprios povos indígenas. “Eles disseram o que queriam e o Estado ouviu. É assim que deve ser”, pontua o governador.
Kuahí, que significa “pacú” na língua local - o peixe prateado que nada em cardume - sintetiza o espírito coletivo dessa retomada. Um só corpo, muitas vozes, unidos por uma história que não aceita mais ser apagada.
O sábado será de festa, mas também de reflexão e pertencimento. A programação começa cedo e atravessa o dia com música, arte, apresentações tradicionais e rituais que são, por si só, uma aula viva de Brasil profundo. Tudo isso acontecendo no coração do Oiapoque, na terra que é fronteira e origem, limite e começo.
E quem tiver olhos para ver, vai perceber que não é só sobre cultura - é sobre dignidade. É sobre escutar quem sempre foi silenciado. É sobre fazer história com quem nunca deixou de tê-la.
Comentários: